segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Um Cara Egoísta





Há três dias eu não consigo dormir, estou preocupado com o jogo da final do campeonato. Não consigo dormir mesmo sabendo que tenho de acordar ás cinco da manhã, para ir para escola.  Há três noites eu estava deitado olhando para a escuridão e tentando convencer meu cérebro de que dormir, era o melhor negocio, e no meio daquele silencio ensurdecedor eu ouvi um sussurro, eu não sei se era exatamente isso, mas eu fiquei em alerta.




Sentei-me em minha cama e observei envolta, a única luz que havia em meu quarto era a de um carro que acabara de passar, e fazia as sombras se mexerem em meu quarto, notei que começava a chover, e as primeiras gotas batiam no telhado, quando eu ouvi novamente o sussurro, agora audível, dizia ”venha ao espelho...”, soou como se fosse um segredo, uma voz baixa, rouca e seca.
Levantei-me e andei pelo quarto indo até minha escrivaninha, peguei uma lanterna que estava em uma das gavetas e apontei para o espelho, não havia nada, mas eu olhei mais de perto, e me deparei com uma criatura estranha, pode me chamar de maluco, mas eu não havia bebido nem uma gota de álcool aquele dia, era uma criatura um pouco mais alta que eu, sem olhos, havia apenas buracos que pareciam levar á eternidade, sua pele era cinza cheia de cortes irregulares e fundos, dos quais escorria muito sangue, como se ele acabasse de ser atropelado por um trem. Eu fiquei o olhando, imaginando se eu não havia mesmo bebido nem um gole de José Cuervo, mas não, acho que não...

A criatura inclinou a cabeça para o lado, com isso tive certeza de que não era meu reflexo, ele sorriu mostrando seus dentes amarelos e pretos, como se comesse lixo. Então ele começou a arranhar o vidro, e depois de alguns riscos percebi que era uma mensagem... Ele estava escrevendo com as unhas que eram igualmente nojentas, para combinar com o resto de seu corpo. Depois de alguns minutos a mensagem dizia: “Você vai perder tudo...”. Eu na hora fiquei meio impressionado, mas então ele bateu no vidro do espelho como se estivesse preso, e começou a rir quando eu dei um pulo para trás, com o susto.

Eu fechei meus olhos por acho que uns cinco minutos e quando abri ele havia sumido, eu voltei para a cama convencido de que era uma alucinação, pois eu estava exausto, meu dia havia sido cansativo e corrido, não é fácil ser o astro da escola e namorar a garota mais gostosa da escola, sem falar que eu bati em alguns nerds naquele dia. Eu adormeci exausto.

Ontem eu acordei suado, havia tido um pesadelo com aquele monstro, tenho certeza de que era por causa da tequila, minha namorada havia brigado comigo por causa da Cindy, ela esta com a mão dentro da minha bermuda no vestiário, mas quem pode culpa-la eu sou lindo alto forte, olhos azuis e cabelo loiro, minha namorada só vai sair perdendo se me deixar... No meio dos meus pensamentos o silêncio foi rompido, era um sussurro... Era ele, mas eu não me levantei da cama dessa vez, então aquela coisa começou á bater no vidro como se fosse um gorila tentando sair, eu então peguei meu taco de beisebol e acertei o espelho... Claro que não foi a coisa mais sensata á fazer, mas eu só percebi quando vi a criatura saindo de dentro do espelho, e vindo em minha direção, eu desmaiei.

Agora devem ser umas sete da manhã, e eu acabei de acordar no meio das cinzas, não á nada aqui, nada em volta, apenas a terra árida, meu celular não esta comigo, minhas roupas parecem que estão queimadas, onde eu estou?

Estou andando por uma estrada de terra. Estou vendo um bar ali á frente, eu estou tão cansado, na porta do bar á alguns jornais... Espera ai... Três casas foram queimadas ontem á noite, em um incêndio misterioso... Os endereços? Minha casa, a da minha namorada, e a do meu melhor amigo, irmão da Cindy...

Todos encontrados mortos.

Eu olhei para cima, senti as lagrimas preenchendo meus olhos, e me deparei com um espelho atrás do balcão do bar, pela janela eu vi meu rosto todo cheio de cicatrizes, meu cabelo raspado, e atrás de mim eu vi a criatura sorrindo... E no espelho uma palavra arranhada.


Egoísta.




Imagem com alterações, retirade de: Pílula Pop

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